A fundamentação teológica da ética encerra na verdade uma ampla reflexão que vai desde a atualidade do tema à sua refundação na Teologia da Libertação. no fundo, a questão ética não é apenas um detalhe do humano, é o próprio humano nos seus princípios e práticas que norteiam e dão sentido ao seu viver. O Concílio Vaticano II, ao criar e ensejar uma perspectiva de mudança, apontou também para a necessária retomada no campo ético moral: “Uma evolução tão rápida das coisas, progredindo com freqüência desordenadamente, e mais ainda a própria consciência mais aguda das discrepâncias vigentes no mundo produzem ou aumentam as contradições e desequilíbrios (..). As instituições, as leis, os modos de pensar e agir legados pelos antepassados não parecem sempre bem adaptados ao estado atual das coisas. Vem daí uma perturbação grave no comportamento e nas normas de conduta”.
Contrariamente ao que muitos poderiam supor, neste campo, as mudanças não se restringiram a um mero “aggiornamento”. Não se tratava apenas de promover uma reciclagem da moral calcada no velho princípio ético vigente. Nem tão-somente de promover uma superficial revisão das normas éticas contidas nos manuais de teologia moral. Na verdade, seguindo o espírito e a inspiração do Concílio, foi preciso voltar às origens, o que, em campo ético-moral, significou voltar ao princípio fundante da ética cristã. Isso tem implicação em passar por cima das influências históricas e filosóficas sofridas ao longo dos séculos pela ética cristã e recuperar a sua regularidade.
A Teologia da Libertação assumiu esse desafio. No dizer de Leonardo Boff, um dos pioneiros e sintetizador desta corrente teológica, “a Teologia da Libertação tem uma ‘irrecusável grandeza ética’. Ela mostra compaixão com o sofrimento humano. Associa-se ao destino dos condenados da terra. Escolhe o caminho mais difícil, mas mais digno: pensar, atuar e partilhar a causa, a luta e a esperança junto com todos os oprimidos, em vista da sua convivência em liberdade, em solidariedade e colaboração. Tal opção pode custar onerosos sacrifícios, perseguições, prisões, torturas e, em não poucos casos, a própria vida”.
A tarefa da refundação ética é um esforço em parte realizado e sintetizado pela Teologia da Libertação, mas um empreendimento ainda em processo. A ética da libertação é uma prática do cotidiano. E, embora haja consenso entre as pessoas e sociedades sobre a necessária urgência da ética, este consenso se desfaz quando se trata de buscar no Deus de Jesus Cristo e nos pobres o referencial fundante para uma nova postura ética.
Embora a ética da libertação tenha seus fundamentos na experiência de Deus revelado em Jesus Cristo, ela passa pelas mediações humanas e encontra aí a sua concretização. De sorte que todos os homens e mulheres em suas culturas promotoras da vida integram e promovem. A ética da libertação aponta como princípio normativo o Deus da vida, o qual não se deixa prender nem enclausurar-se em nenhum conceito, muito menos nos ditames dos pseudovalores ético-morais vigentes.
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