quarta-feira, 25 de março de 2009

HISTÓRIA DA TEOLOGIA COMO CURSO SUPERIOR NO BRASIL

O ensino de Teologia no Brasil começou com a vinda dos primeiros missionários portugueses e com a necessidade de formar quadros para as ordens religiosas e as dioceses da nascente colônia.
Sob o regime do Padroado, a Teologia ensinada nos seminários devia cumprir sua função de transmitir a doutrina dos manuais da escolástica tardia e da contra-reforma, treinar a oratória sacra, formar os confessores e não por último reforçar a lealdade dos sacerdotes a El Rei e à Coroa.
Como religião oficial e exclusiva da metrópole e de sua colônia, o catolicismo teve que pagar altos dividendos pelo privilégio da exclusividade. Um deles foi o formalismo, o engessamento e a falta de criatividade da pouca teologia que aqui se praticou. Com a crise pombalina, a expulsão dos jesuítas em 1759 e a posterior proibição às ordens religiosas de receber noviços, o quadro da formação teológica deteriorou-se.
Apenas na segunda metade do séc. XIX, já no contexto da Questão Religiosa, da anterior fundação do Seminário do Caraça e da realização do Concílio Vaticano I em 1870, é que os bispos brasileiros refundaram institutos e trouxeram novas congregações religiosas da Europa para assumirem o ensino da Teologia. Este processo, conhecido como romanização do catolicismo brasileiro, produziu um elevado grau de clericalização na Igreja brasileira e na teologia, o que contribuiu para muitos confrontos com setores mais positivistas dentro do movimento republicano. Declarada a separação oficial da Igreja e do Estado, oficialmente com a proclamação da república em 1889, a Teologia - e as Ciências da Religião em geral - foi relegada a mero estudo das coisas eclesiásticas e assim tratada por ambas as partes.
Foi apenas no quadro atual, de uma sociedade de fato plurireligiosa e pluriconfessional, marcada pela emancipação da Teologia do peso de ser porta-voz da estrutura eclesiástica, pela contribuição teórica e prática dada pela Teologia latino-americana da libertação, ao processo de democratização da sociedade e à luta pelos direitos humanos, pelo (re)surgimento de inúmeros movimentos religiosos e, ainda, pelo inegável avanço epistemológico acontecido no âmbito da própria razão científica ocidental - cuja crise de paradigmas aponta hoje para as teorias da complexidade -, foi somente nesse horizonte modificado que se criaram as condições para o reconhecimento oficial da Teologia, enquanto disciplina e conhecimento acadêmico em pé de igualdade com as demais ciências humanas e do espírito.

por pastor Erkki Messias

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