domingo, 30 de novembro de 2008

O Deus da Bíblia - A Existência de Deus


Sl 136.1-9,26.

Introdução:

I. A existência de Deus

II. A limitação humana diante de Deus

III. A diferença entre o Deus da Bíblia e os falsos deuses

IV. Deuses que não são da Bíblia



Conclusão:



Autor deste comentário: Esdras Costa Bentho. Autor das obras Hermenêutica Fácil e Descomplicada e a Família no Antigo Testamento: história e sociologia, ambos da CPAD.

Título deste subsídio: A Existência de Deus

Palavras-chaves: Existência de Deus; Teísmo; Ateísmo; Agnosticismo; Linguagem Teológica






Introdução

As Sagradas Escrituras não se preocupam em provar a existência de Deus. Sua existência é fato estabelecido. Esta é a razão pela qual a Bíblia não oferece ao homem moderno qualquer prova racional quanto à existência de Deus. “No princípio criou Deus” (Gn 1.1), é o prólogo insofismável das Escrituras. Deus existe antes de tudo e de todos! Nesta simples e contundente afirmação a Bíblia nega:

a) o ateísmo: para o qual Deus não existe;

b) o politeísmo: para o qual existem muitos deuses;

c) o evolucionismo: para o qual a matéria evoluiu "continuamente";

d) o fatalismo: para o qual a vida surgiu do acaso, sem qualquer propósito;

e) o agnosticismo: para o qual Deus não pode ser conhecido.

A segunda parte da proposição sagrada não deixa de ser menos apologética: "... criou Deus os céus e a terra". Nesta verossímil afirmação a Escritura nega:

a) o panteísmo: que confunde Deus com a criação;

b) o materialismo: que afirmar a eternidade da matéria. [1]

A primeira declaração da Escritura acerca de 'Ĕlōhîm (O Criador, o Forte e Poderoso Senhor) é um testemunho irrefutável de sua existência soberana. O Senhor é 'Ĕl hashshāmāyin, isto é, o "Deus dos céus" (Sl 136.26), incapaz, portanto, de ser confundido com a criatura, ou como afirma o nome 'Ĕl 'ēchād, literalmente "o Único Deus" (Ml 2.10), impossível de ser confundido com outros deuses. Por conseguinte, a Sagrada Escritura só reconhece o Único e Soberano Deus de Israel.

Teorias que Negam a Existência de Deus

1. Ateísmo

O vocábulo ateu é formado pelo prefixo grego de negação a (“não”, “provação”, “negação”) e pelo substantivo theos, isto é, “deus” ou “Deus”. Literalmente, atheos significa “sem Deus”. A palavra “ateísmo”, no entanto, é formada pelos dois termos anteriores e o sufixo “ismo” que denota “doutrina”, “sistema”, ou “ensino”. O ateu é aquele que não crê em Deus, enquanto o ateísmo designa a filosofia ou os ensinos dos ateus. Ateísta é aquele que nega a existência de Deus e acredita que existam provas contra a existência do Divino.

O ateísta procura explicar todas as coisas a partir da matéria, do natural e visível. Nas Escrituras o ateísmo professo é considerado mais um problema moral do que filosófico ou existencial. O néscio (hb. nābāl)[2] que nega a Deus (Sl 14.1), não o faz por motivos filosóficos, mas pela suposição prática de que pode viver sem Ele (Sl 10.4). As Escrituras também reconhecem a possibilidade de “suprimir” de modo deliberado e, portanto, culpável, o conhecimento de Deus (Rm 1.18).

Segundo o contexto neotestamentário o ateísta não é apenas aquele que não crê na existência de Deus, mas pode ser também um teísta que não conhece o verdadeiro Deus: “Porque, ainda que haja também alguns que se chamem deuses, quer no céu quer na terra (como há muitos deuses e muitos senhores), todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem é tudo e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós por ele” (1 Co 8.5,6). Em Efésios 2.12 lemos: “naquele tempo, estáveis sem Cristo [khōris Christou], separados da comunidade de Israel e estranhos aos concertos da promessa, não tendo esperança e sem Deus [ắtheoi] no mundo”. (grifo nosso). O termo grego ắtheoi, neste contexto, tem o sentido de “não pertencente a Deus”, “sem Deus”, em vez do significado corrente de negar racionalmente a existência de Deus, como o fazem os filósofos ateus. Esse ateísmo é mais prático e moral do que existencial e filosófico. Observe que ắtheoi em Efésios, não pretende afirmar que a pessoa não crê em alguma divindade, mas que ignora a existência do Deus de Israel. É assim que devemos entender o advérbio de negação khōris, traduzido em diversas passagens por “separadamente”; “à parte de alguém”; “longe de alguém”. Literalmente a expressão khōris Christou, quer dizer “longe de Cristo”, “afastado de Cristo” e não antichristo, isto é, “contrário ou oposto a Cristo”.

2. Politeísmo

A expressão paulina em 1 Co 8.5 theoi polloi, isto é, “muitos deuses”, formam a palavra “politeísmo”. O politeísmo como sistema filosófico-religioso acredita que existem diversas divindades. Segundo Geisler o politeísmo "é a cosmovisão que afirma a existência de muitos deuses finitos no mundo". [3] Para o politeísta há o "deus da água, do fogo, da guerra" e assim por diante. O politeísmo, como anteriormente afirmamos, é uma forma de ateísmo, segundo o contexto do Novo Testamento. O politeísmo está engajado contra o monoteísmo cristão.

3. Agnosticismo

O termo agnosticismo é formado pelo "a" privativo ("não" – negação) e pelo substantivo "gnōsis" [4], isto é, "conhecimento"; literalmente "não-conhecimento". Agnosticismo é a filosofia religiosa que afirma a impossibilidade de se conhecer a Deus. Segundo o agnóstico não é possível saber se Deus existe ou não. O agnóstico critica o ateu e o teísta pelas pressuposições que assumem: a convicção de que Deus não existe e a certeza de que Deus existe. Por extensão, designa aquele que acredita que não existam provas suficientes para provar ou negar a existência de Deus. Teologicamente, o agnosticismo afirma que é impossível ao homem obter conhecimento a respeito de Deus. Não se pode provar ou refutar Sua existência. O agnosticismo é um sistema que contradiz a si mesmo, pois se não é possível saber com absoluta certeza, como eles mesmos estão certos de que não é possível negar ou confirmar a existência de Deus? Quando o vocábulo foi criado em 1869 por T.H. Huxley (1869) era usado para designar o ceticismo religioso.

4. Panteísmo

A palavra “panteísmo” procede do prefixo “pan”, "muito", "tudo", e do substantivo “theos”, literalmente significa “tudo é Deus”. Esta expressão refere-se aos sistemas religiosos que identificam Deus com o mundo. Para o panteísta tudo é Deus. O panteísmo confunde Deus com a natureza, o Criador com a criação: árvores, pedras, terra, água, todos são partes, segundo afirmam, de Deus (Rm 1.23). Deus e a criação são apenas um – indivisível, indissociável, imanente. O panteísmo também defende a imanência radical de Deus, pois crê que Deus está e é tudo. Como já observamos anteriormente, a Bíblia não confunde o Criador com a criatura, muito menos ensina a natureza como emanação divina. Deus, embora ativo na história, está separado das coisas criadas e controla toda a criação. Ele não é idêntico às criaturas, em menor ou maior grau. O panteísmo também nega o caráter pessoal de Deus ao identificá-lo com o mundo material.

5. Materialismo

O materialismo declara que a única realidade é a matéria, o tangível, as coisas concretas, não espirituais. Não crê na existência de Deus porque não O vê. Todas as coisas se explicam naturalmente e através dos agentes físicos e materiais. O materialismo, freqüentemente, tem sido colocado em oposição à vida, à mente, à alma ou ao espírito. Uma preocupação com a matéria tem significado, tradicionalmente, uma preocupação com os prazeres mundanos e os confortos físicos em contraste com o bem religioso e espiritual.

Afinal, Quem é Deus?

Todas e quaisquer definições intelectuais acerca de Deus se confinam à limitação humana: “Porventura, alcançarás os caminhos de Deus ou chegarás à perfeição do Todo-Poderoso” (Jó 11.7). Definir, em última análise, significa limitar. Envolve a inclusão do ser ou objeto definido dentro de uma determinada classe. Deus não pode ser satisfatoriamente definido. Ele é muito mais do que as palavras significam. O Eterno não está confinado aos sentidos da limitada linguagem humana. Hegel chamava de "consciência infeliz", o fato de o finito, o homem, tentar definir o Infinito, Deus. Temos neste ponto o desafio e confronto da linguagem apofática e catafática na teologia. A linguagem do Mistério e do revelado, do cognoscível e Incognoscível, do Transcendente e do imanente, o Deus dos filósofos e o Deus de Abraão. Como afirma a Bíblia a respeito de Deus, hā'ēl haggādôl wehannōrâ – "Deus, grande e terrível" (Ne 1.5; 4.14; 9.32; Dt 7.9). Quem é suficientemente sábio para compreender a sublimidade dessas palavras? Porém, a Bíblia declara a existência de Deus e revela seu caráter e natureza com bases racionais suficientes para se estabelecer um conceito coerente a respeito dEle, de seus atributos e natureza. Ninguém pode definir a Deus satisfatoriamente à parte daquilo que as Escrituras afirmam acerca de Deus. Lembremos, com muita humildade e devoção, que Deus não pode ser definido em sua natureza transcendente, pois Ele é o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último. Ele é O Eterno (Jo 1.18).

Notas

[1] Ver BAXTER, J.Sidlow. Examinai as Escrituras. São Paulo: Vida Nova, 1992, p.36.

[2] No hebraico "ser insensato", "tolo". O termo é usado para indicar a repugnância ou desprezo do hagiógrafo pelas pessoas que zombam da rocha de sua salvação (Dt 32.15) ou trata o pai com desdém (Mq 7.6). Deus torna o recalcitrante desprezível (Na 3.6). O termo enfatiza que a pessoa tem comportamento vil e vergonhoso. Moisés censurou sua geração, chamando-a de ‘am nābāl, “povo louco” (Dt32.6).Cf. R. Laird HARRIS (et al), Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento,1998,p.909-910.

[3] GEISLER, Norman. Enciclopédia de apologética. São Paulo: Vida, 2001, p. 707.

[4] No grego, conhecimento nos textos de Lc 1.77; 11.52; Rm 11.33; 1 Co 8.7,7,11. Com o genitivo significa o conhecimento pessoal de alguém (Fp 3.8).



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